29 agosto 2008

Opções por vermelho


Inspirado por um post da Ju, (obrigado Ju, se não lesses só blogues de moda, agora tinhas aqui um beijinho... :P) onde apareceu este vestido vermelho, escrevi um longo texto (de três páginas). Deixo aqui o aperitivo, quem estiver interessado siga o link ao fundo.

«A noite estava fria, saudosa dos Dezembros antigo que os ossos já não guardam na memória. E o vestido dela tinha nitidamente outros projectos, diferentes de caminhar pelas ruas esquecidas da cidade vazia.
(...)
Ele endireitou-se sem a largar, mirando-a como quem se afasta. Medindo a perturbação dela. De joelhos a tremer, ela fechou estoicamente os maxilares e fingiu resistir… o olhar inamovível, as pupilas do tamanho da noite, dele, e do universo. Ele sorriu, deliciado, duvidoso, divertido. Aproximou-se de novo dela, inspirou-lhe o pescoço, e ao de leve, quase de propósito, tocou‑lhe o lóbulo com a língua. Saboreou-o com deleite indisfarçado, enrolou a língua e afiou os dentes no suspiro dela.»

O texto completo aqui.

26 agosto 2008

Às 2 da manhã, os meus pepinos transforma-se em dosiers e por qualquer razão isso hipnotiza toda a gente (leia-se: "eu")

...ou "séries há muitas".


Há muitos, muitos anos, a televisão dava o "Dear John", que chegava a casa de um dia de trabalho e encontrava apenas uma carta da suposta mulher que começava por "Dear John, When you read this letter I'll be long gone". E o John ia para um grupo de apoio a divorciados, vivia as desventuras dele e nós assistíamos, mais ou menos interessados.

Mais tarde vieram os primos. Um da cidade, outro de um sítio logo depois do "fim do mundo". E sempre que alguma coisa de boa acontecia tapávamos os olhos enquanto o inocente e norte-americano pacóvio celebrava com a famosa "dança da alegria". Estes eram os tempos simples.

Entretanto apareceu um carro que falava, saltava e andava em duas rodas. Ficção científica, sem dúvida, mas ainda assim, imaginável. Passados estes anos todos ainda não há carros bem assim, mas ninguém duvida que lá se chegará. Se hoje me dia há gente no Metro com uns auscultadores mínimos a falar para o outro lado do Mundo... carros que saltem hão-de estar a um salto...

Houve também um MacGyver, que construía bombas de pastilhas elásticas e asadeltas de sacos do lixo e canos velhos... Para quem nada percebe de química nem de física, aquilo parecia tudo bem real. Ou pelo menos, nada de sobre-humano. O homem tinha sorte. Sempre que precisava de cloreto de potássio*, fechavam-no na cozinha de um restaurante (sim, sim, cloreto de potássio é o única expressão de química que conheço...). E ele lá conseguia temperar a carne, mesmo a tempo de salvar o Mundo...

Desconfio, embora não tenha a certeza, que foi com o DragonBall que o mundo das séries televisivas não voltou a ser o mesmo. E cada vez mais estou a ficar velho para acompanhar o ritmo da imaginação estapafúrdia destes guionistas. Nem seis meses de "férias" lhes valeram.

Primeiro alguém resolveu que ir para a prisão salvar o irmão e tentar fugir com o mapa tatuado nas costas dava para fazer dúzias de episódios - quando o Sean Connery (78 Verões, não se esqueçam de lhe dar os Parabéns) escapou de Alcatraz em 136 minutos. E o que é que isto tem a ver com o DragonBall? Bem, quem viu aquelas cenas de porrada frenéticas e viciantes, em que um murro demorava entre quatro a seis dias a ser dado, sabe bem do que falo... Já vi fugas da prisão relatadas no telejornal em 20 segundos... Como é que esta gente consegue fazer render o peixe!? Ah, sim! Claro... e depois temos nova temporada, após a fuga... (já cá fora!, finalmente!...)

Mas há pior, claro. O auge era para mim a série sobre meia dúzia de tipos que caiem numa ilha. Porque normalmente é isso que acontece... Os aviões despenham-se do céu e há gente a cair ilesa. Numa ilha deserta. Que afinal não é deserta. E afinal, não foram só meia dúzia, deve ter sido aí metade do avião. E a ilha está cheia de gente. E de instalações militares, aborígenes e espirituais. E acontece tudo naquela ilha. Qualquer coisa entre "Triângulo das Bermudas" e "Ilha da Fantasia" (lembram-se desta, onde até havia um anão e tudo, mas onde, embora a fantasia reinasse no título, estava a anos-luz de "Lost"?...). Quem é que se lembra daquelas coisas?

E não pensem que me esqueço dos "Ficheiros Secretos". Aí pouco trabalho houve para a imaginação. Apenas uma colecta mais ou menos elaborada de mitos urbanos, histórias do papão e velhas lendas. Interessante, sem dúvida. Extra-terrestres (filmados desde que existe cinema), implantes debaixo da pele (não metem isso nos cães hoje em dia?) e abelhas assassinas (terão apanhada a gripe das aves?) têm a sua piada, trouxeram para o mainstream uma série de culto... mas são aprendizes perto das loucuras que hoje passam no móvel central da sala.

Reparem que isto não é uma crítica aos guionistas. Pelo contrário, cada vez mais me convenço que se eles quiserem prender-me em frente à televisão a ver alguém recitar poesia Haiku a partir de pepinos... conseguiam. Aliás, depois do que assiste hoje, já pouco deve faltar... Duas horas, completamente vidrado na história de um fulano que tem... uma chave. E seja qual for a porta onde ele a insira, vai parar a um quarto de um Motel. E a história é isto. Depois há detalhes, como a filha ter desaparecido nesse quarto e ele andar à procura dela. E o cientista da polícia, personagem cuja modelagem não existe (perfeita caricatura). O amigo muito mal representado... etc., etc.. Resultado: já meti o resto da série a gravar.



*Corrigenda: pensava, é claro, em cloreto de sódio, como bem apontou a Eva nos comentários...

24 agosto 2008

Just oxygen

Diálogo entre Bill Truitt (Martin Donovan) e Matt Mateo (Ivan Sergei):
Bill: Admit it, this thing between you and Jason is just sex.
Matt: You know that stuff you're breathing there, it's just oxygen.
Bill: It's an itch. You scratch it, you feel better.
Matt: A lot better.
(pause)
Bill: You look good. It's been a while, I'd forgotten.
Matt: What did you do with those Polaroids?
Bill: That's not what I'm talking about. You know...
Matt: Bill, you think too much. You wanted me, I was fine with that. I was flattered. I was stupid enough to have taken it personally. But it wasn't enough for you. You had to take it to the next level, make it mental or spiritual or something...

18 agosto 2008

A brisa que passa
Na tarde que simplesmente acontece.
Nos braços vazios
Ou acompanhados.
Nos olhares de uma esplanada
Ou num rosto amigo.
Um tempo desaproveitado
Um ócio degostado.
Férias até de ser
Neste Agosto escondido.

08 agosto 2008

Três vidas

O superintendente Jorge Barreira, número um do Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Lisboa, deu a ordem aos 'snipers' do Grupo de Operações Especiais para 'neutralizar' os dois assaltantes que se barricaram na dependência do Banco Espírito Santos (BES), ontem à noite.


A ordem para matar foi avalizada pelo próprio director nacional da PSP, Oliveira Pereira, presente no teatro de operações. E surgiu quando os dois brasileiros apareceram à entrada da agência de Campolide do BES, apontando armas de fogo ao pescoço e à nuca dos dois reféns, funcionários do banco. "Estava em risco a vida de terceiros", justifica uma fonte autorizada da PSP.


Foram disparados três tiros. O primeiro matou um dos suspeitos, outro falhou e o terceiro atingiu o segundo assaltante, que está internado em estado grave no Hospital de São José.




Hoje de madrugada, um homem chegou a casa e, depois de saber que os filhos tinham feito uma birra para dormir por causa da PlayStation, e à corriqueira pergunta «vieste tão tarde!, estás muito cansado?», respondeu:
- Hoje, ao fim do dia, mandei matar um homem...

Um pouco afastado dali, alguém deu uma resposta parecida. E, talvez um pouco mais longe, houve alguém que cerrou um pouco os maxilares e respondeu:
- Como sempre... - enquanto silenciava «Só que hoje matei um homem».


Esperemos que as vítimas estejam já todas contadas.

07 agosto 2008

Love

A long time ago I devised a test to prove love. As so many other things, it was inspired by a simple and everyday life event: from my window I saw a couple walking by, holding hands. «Oh, how sweet is love!»... And I wondered, how could I know that I was watching real love?...

The test began as something small and scientific: a couple would be placed in a white room, with a chair and a table. All they had to do was prove to someone else that they felt real love. I rapidly concluded that words and sex would not be enough, and so I gave up on science. The couple could do whatever they wanted, wherever they wanted. No need for a controlled environment.

The first important find was that if someone took his own life to save the other, it would probably mean they loved that person. Although not necessarily, since some people would give their life for a worthy cause... Nevertheless, this could not be my final answer. If one would have to die to prove one's love, the Earth would be filled with graving loved ones...

The needed help came from where I least expected. In law people study the nature of things. Things are divided in two groups: things that can be felt by our five senses, and the others. Well, love cannot be sense by any sense, except by the one that feels it. So, love cannot be proved, since it cannot be felt by anyone else.

At the end, my test is a failure, and love is all about trusting. In fact, today I think love is only about trust.

01 agosto 2008

Sou universal

Uma pedra que toco, olho e guardo
E é um momento, único e dilecto.
Uma árvore que esconde o Sol,
E folhas mil que o dividem em cem sóis.
O perfume da mulher que passa e é bela
Para mim?, para ela, para o Mundo.
Água! Ah! Refrescante, amiga, nos meus lábios.

Um pouco do ar que inspiro na vida,
Um nada de horizonte que olho no dia,
Este momento, agora, presente, vivente!

Ah! A certeza da infinitude!...
A eternidade neste breve instante...
Saber sentir o sangue,
Exalar a energia exultante,
Crer consagrada a criação!!!

Oh, força! Oh, vida! Oh, Universo!
E saber-me a mim universal,
Apenas porque efémero e temporal.
Ser que porque morre, tem de viver,
Quer viver!
Vive!
E é por isso,
Maior e mais,
Ser peremente intemporal.
Pedaço de universo consciente,
Um deus interior, pessoa,
Um eu, um outro.

Ser.