16 dezembro 2010

Ainda gostas de mim?

Algodão doce, bom-bom de chocolate.
Um rebuçado vermelho... ou até azul!

Deixas-me trocar a casa de Gretel pelo teu sorriso?...


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Este inenarrável tempo que tudo cura,
Tudo muda, tudo domina e tudo mata,
Que depois da última pedra, ainda dura,
Sentou-se ao meu colo e cruzou a pata.
Que pode um poema contra tal censor?
Escrevinhar palavras sem sentido, sem amor?
Trair-te o sentimento, fingindo tudo em pensamento?

Sou poema atrasado, meu autor,
sou poema mal rimado.
Sou poema de alma,
não sou poema do mês passado.
Quem me anima é tão real como tu
E tão excelso tributo como só eu.

Tenho versos de saudade,
Dos olhos que me vão ler,
Dos sentimentos que me vão preencher,
Do brilho que vou acender,
no olhar.

Tenho palavras.
Tenho as tuas palavras.
Tenho-te a ti em cada linha,
Porque pões quanto és no mínimo de mim*.

Ah tempo; tanto tamanho, tanta quantidade,
Que nada és.
Que ainda foi ontem que aconteci
E já hoje que renasci
E amanhã serei; amanhã, reli.

Rima-me meu autor,
Meu breve humano deste dia,
A mim, poema sem fim.
E sim, ainda e sempre, gostas de mim.








* Citando Fernando Pessoa, 
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

08 setembro 2010

Prova provada

Há coisas que não vale a pena discutir. É evidente que nunca poderemos viajar no tempo, ou já teríamos voltado cá para contar (já estou a imaginar as perguntas dos jornalistas: "E o que vai almoçar hoje?", "E com quem?", "E a quem vai telefonar?", "E a sobremesa?".

Talvez agora possamos dedicar a nossa ciência a investigar coisas mais produtivas.

Eu gostava de viajar no amarelo.Alguém tem uns milhões para investir neste projecto? Chaves do euromihões por aí perdidas? Metam na caixa dos comentários ou mandem por email.

13 agosto 2010

Calcanhar-Ponta do pé

Entre o gostar simplesmente,
E o odiar visceralmente,
Medeia um hiato sem significado,
Se o metro estiver nivelado.

Mas dado o passo calcanhar-ponta do pé,
Existe toda a falésia do último voo,
Que atravessa o arco-íris dos sabores,
a que, insipidamente, chamámos emoções humanas.
Da paixão, à raiva, ao ódio, ao desprezo,
Até se estatelar na indiferença do tempo,
Atravessa-nos este momento de clarividência
Que o súbito e - sempre surpreendente - chão
Dá de brinde a uma queda.
É o pequeno instante da esperança,
o momento em que o pânico já combina festas.

O coração cruza todo aquele espaço vazio,
que se criou onde a superfície do desconhecido radicava.
Porque um desconhecido é possibilidade e no pior dos casos,
Uma esmola num chapéu onde se contam moedas negras;
Mas quem já se amou é um poço fundo,
onde a moeda nunca nos devolve o som da distância.

23 maio 2010

É lilás

É uma rocha à beira-mar,
é uma vila.
É um banco ladrilhado na pedra,
é um destino.
É uma mulher que chega e ri,
é uma fantasiosa ilusão.
É uma tarde de conversa,
é um número de telefone.
É uma paixão,
é hoje.
É sonhar de olhos abertos,
é o odor a sal e areia.
É o teu beijo, é sedução,
é partir só, no coração.

É uma onda que salta em espuma,
e me acorda,
te molha,
nos mistura.

É ali,
é agora,
é um dia.

É uma história que foi,
é o futuro.
É uma canção de embalar,
é a nossa foto.
É um primeiro encontro,
é o antes desse.
É um abraço de até amanhã,
é um até sempre.
É encontrar o filão da vida
é não ter onde o guardar.
É não ter nada de perfeito,
é ser apenas bom.
É saborear sem perceber,
é sentir.

É até que a morte nos encontre.
É o nosso amor.
É cor de cenoura.

11 abril 2010

Balada das gaivotas

Expectantes na praia do entardecer.
Ao alcance de ondas feiticeiras,
que explodem na indiferença,
face ao horizonte alaranjado, esperançado.

São admiradoras e a seu tempo personagens
daquela matiné de beleza apaixonante,
da grandiosidade do instante.

Os dias haverão sempre de se acabar em noites.
Porque elas estarão lá, magnificamente,
para se assegurar
disso.

17 março 2010

Tributo

Estas vis palavras não são senão sarcófago da minha alma;
Qual dama de ferro que me aprisioturtura o ser e o sentir.
Fútil este fundo branco na sua tentativa de reter quem sou.
O meu poema sangra dor e rejubila alegria. E este papel não é feliz.
Tristes de vós que ledes apenas o tributo.
O tributo ao poema.
Vivei o fervor da agonia e da magnificência,
Senti o nojo, senti a utopia.
Porque só sentido,
Só sendo,
Podereis escutar o poema
Que me rima o espírito.