23 janeiro 2009

O dia do macaco e a "Explicação Universal"

Um dia, o macaco apercebeu-se que era macaco. O dia da tomada de consciência superou em importância qualquer tomada de posse presidencial da super-potência em voga na cultura contemporânea. A partir daqui o macaco não parou de progredir. Apercebeu-se que ele existia e era diferente dos outros macacos. Que os outros macacos também existiam. Da macaca! E claro, apercebeu-se que estava vivo. O que foi naturalmente motivo de festa.

A festa da vida foi a grande alegria da consciência. Infelizmente, traria também alguns dissabores. No final do dia, no rescaldo da excitação, um dos macacos tropeçou e caiu em cima de uma pedra inconsciente. O golpe foi fundo e os macacos souberam que também morriam.


As primeiros tribos de macacos conscientes trouxeram em si o veneno que os extinguiria - e que hoje chamamos doença do novo milénio, "depressão". No dealbar da consciência, o macaco deprimia a cada contingência, ao ser confrontado com a sua mortalidade, a sua natureza precária, a sua fragilidade. E para quê? Como perceber estes sentimentos enormes e avassaladores? Como ficar contente ao nascer do sol, se o macaco da tribo rival decidir experimentar o novo osso na nossa cabeça? Ou como celebrar o churrasco, se o pitéu tiver morrido de um envenenamento tóxico? Porque o macaco de então não conhecia a esperança. Olhando para o que via, ele não encontrava um sentido. Vivia, morria. Qual o significado? Quanto vale uma vida? Uma pedra que se desfaz? Uma árvore que seca? E depois da consciência, veio a depressão. E a morte.


Por esses dias, o proto ser humano foi iluminado com a capacidade de explicar. Ele passou a ser capaz de encontrar consequências. De saber que a um acto se segue uma reacção. E assim tudo estava justificado, explicado. E o que a ignorância escondesse seria uma acção do "Desconhecido", do "Outro", do "Grande". A explicação universal para todo o desconhecido havia nascido. E com ela, o primeiro anti-depressivo, tomado, obviamente, por antecipação. Antes dos sintomas. E quando o proto-humano tomou consciência de si, ao contrário do macaco deprimido, não desistiu à primeira morte. Ele não desesperou à primeira derrota. Porque havia um sentido. O proto-humano tinha um propósito. O proto-humano era capaz de superar as desvantagens da consciência e isso levá-lo-ia ao domínio do planeta. Ele tinha consigo a "explicação universal" de tudo, inclusivamente de si mesmo.

20 janeiro 2009

Freud explica:

Secretária visivelmente surpreendida por encontrar um advogado tão cedo no escritório:
- Oh, Will! You're hot early!... I mean, you're here hansom!... I'm sorry!!! Would you like some sex in your coffee?...

("wasted", on gay Will Truman (Eric McCormack), by an anonimous secretary,
Will & Grace, emitido em 2009)

13 janeiro 2009

Poema

Era uma vez um poema,
De letras negras luzidias
Amantes, amigas e artistas
Coisas vertidas sem margens,
Momentos sentidos, não descritos.


E um dia surgiu, no seu unicórnio branco,
O escritor.
Munido da pena ancestral,
Esculpida dos mais puros materiais,
Escavada dos mais ricos sentimentos.
E, de arma em riste, sobre o papel,
O herói das palavras
Ser inspirado,
Cravou na folha os versos,
Rimou na vida os actos.


E foram felizes para sempre.

12 janeiro 2009

A novidade Humana

As questões simples são, tantas vezes, muito mais complexas do que aparentam. Duas dessas questões, aparentemente simples que sempre me inquietaram são a distinção abstracta entre os humanos e os outros seres vivos e as verdadeiras invenções humanas.
Começando pela última, cabe fazer a distinção (terminológica, explicativa...) entre descoberta científica e invenção. A descoberta consiste em conseguir utilizar algum conhecimento que já existem na Natureza. Assim, por exemplo, o princípio por trás dos computadores (impulsos eléctricos que transportam informação) já se encontra presente (e em estado muito mais avançado) nos neurónios humanos. Fazemos música, tal como tantos outros animais. Desporto com fins recreativos, tal como as crias fazem com fins educacionais (admito que as intenções sejam dissonantes). Contudo, à medida que aprofundamos os conhecimentos deste nosso planeta, apercebemo-nos que a Natureza já tem praticamente tudo patenteado: a pecuária é praticada pelas formigas; há animais que sabem usar instrumentos; os símios conseguem transmitir conhecimentos adquiridos à próxima geração. Será que existe alguma coisa realmente nova? Penso que o único conceito verdadeiramente artificial que concebemos foi o de extra-terrestre - ou de viagem espacial. Tudo o resto é apenas descoberto - basta olhar em volta. 
A diferença face aos "seres irracionais" é outra questão interessante - desta feita, porém, com mais pontos de partida. Segundo a ciência, as grandes diferenças não serão qualitativas, mas quantitavas e prendem-se essencialmente com a linguagem e com a cooperação. Em qualquer dos casos, estas capacidades encontram-se muito mais desenvolvidas nos humanos que em qualquer outro animal. Outros animais têm linguagem e cooperam, mas a um nível incomparavelmente mais simples. Presume-se igualmente que o Humano seja o único ser vivo com consciência. 

A "teoria do Nando"

A teoria a que humildemente (diria até altruisticamente) decidi emprestar o epíteto de nandíssima, é deveras muito simples - como anunciado. As complicações virão logo depois.
Parece que houve um Big Bang. O Universo comprimido expandiu-se. Formaram-se os Planetas. A Terra arrefeceu e surgiu o caldo primordial. A vida deixou os oceanos e encheu o planeta. Os dinossauros extinguiram-se. Em determinado momento os macacos ganharam consciência - o maior salto evolucionário da História. E neste momento, o domínio do Homo Sapiens estende-se a todos os meios e ambientes.

01 janeiro 2009

O Pai Natal e o Totoloto

Eu acredito no Pai Natal. Acredito num velhinho (velhinho já desde o início do século passado) que atravessa o Mundo no seu trenó puxado por renas voadores e, com um sorriso ligeiramente barrigudo, distribui prendas a todas as crianças da Terra - ele sabe quem se portou bem! É evidente que, com quase trinta anos, tenho bem consciência que a história do Pai Natal é um pouco alegórica, um pouco metafórica. Mas eu acredito. Como acredito nas ondas hertzianas que a TMN vende [estou a preparar um contrato de "product placement"].

Acredito nas barbas brancas serenas, do velhote bondoso; acredito nos duendes trabalhadores e incansáveis; acredito na morada secreta, que ninguém pode alcançar; acredito nas descidas pelos esconderijos das chaminés... Porque reparem: há imensos fusos horários, atravessar o Mundo numa noite, não é assim tão difícil (principalmente se for a voar, como os aviões, os pardais, os helicópteros, as libelinhas, os asa-deltas..). E se escreverem ao Pai Natal (e basta endereçar assim, tal e qual, eu já experimentei!), ele recebe mesmo! E responde!!!

E podem argumentar que há imensos Pais Natais em todos os Centros Comerciais... Mas no cinema também aparecem imensas grávidas que nunca o estiveram! E isso não significa que não existam mulheres [e homem] grávidas. Lá por alguns pais e tios se mascararem fora do Carnaval, isso não prova uma mentira, apenas reforça a minha crença: poderia uma mentira estar tão arreigada nos lares humanos, se não houvesse um fundo de verdade?... E as crianças, na sua máxima pureza, são as que mais perto da verdade podem estar. Elas acreditam naturalmente... Porque as convenceriam os pais de uma mentira? Eu respeito quem não acredita. Mas pergunto-lhes sempre: «e no amor e na sede, também não acredita?»...

Já no Totoloto não acredito. Nunca me saiu, e eu porto-me sempre bem. Tenho prendas todos os Natais, mas nunca milhões ao fim-de-semana. E não conheço ninguém a quem tenha saído o primeiro prémio. Só vi uma vez na televisão, logo a seguir ao Hans Solo e o Luke destruírem a Estrela da Morte [para quem não seguiu, foi uma dupla trilogia...]. Não. O Totoloto, para mim, não existe.