19 novembro 2005

Ela

Na estrada ela caminha

Por entre o alcatrão preto

Que a vida ali deixou

Que até a morte já pisou.

Sem destino e sem pressa

Sem companhia, sem mapa

Leva o cabelo negro,

Leva o olhar que não desgruda.

A força deixou-a para trás.

A vida enterrou-a há muito.

Caminha por caminhar

Mas ainda sente cada passo

Ainda geme sob o sol demasiado quente.

Sofre.

Porque assim escolheu,

Porque quis ir mais além,

Porque não seguiu as setas,

Porque não desistiu.

Chegará um dia,

Em que ela não caminhará mais.

Chegará a hora em que

O caminho seguirá só.

E nem nesse dia,

Ele saberá

Onde a levar.

E da carne nascerá pó.

E das vestes - o varrerão.

O vento o espalhará.

E ela já não mais irá.

Estará dispersa.

Estará aqui.

3 comentários:

Anónimo disse...

O pior é que, reza a história, não "estará aqui"...

antonio ganhão disse...

Quando se caminha sobre o trilho traçado pelos outros, algum rumo se leva...

nando disse...

Susana: quem reza, acredita que esteja... e quem não, às vezes também...
:)

António: mais que o caminho, ou o rumo, aqui fala-se da força necessária para caminhar... :)
Mas claro, cada um lê com os seus olhos muito próprios. ;)