Na estrada ela caminha
Por entre o alcatrão preto
Que a vida ali deixou
Que até a morte já pisou.
Sem destino e sem pressa
Sem companhia, sem mapa
Leva o cabelo negro,
Leva o olhar que não desgruda.
A força deixou-a para trás.
A vida enterrou-a há muito.
Caminha por caminhar
Mas ainda sente cada passo
Ainda geme sob o sol demasiado quente.
Sofre.
Porque assim escolheu,
Porque quis ir mais além,
Porque não seguiu as setas,
Porque não desistiu.
Chegará um dia,
Em que ela não caminhará mais.
Chegará a hora em que
O caminho seguirá só.
E nem nesse dia,
Ele saberá
Onde a levar.
E da carne nascerá pó.
E das vestes - o varrerão.
O vento o espalhará.
E ela já não mais irá.
Estará dispersa.
Estará aqui.
3 comentários:
O pior é que, reza a história, não "estará aqui"...
Quando se caminha sobre o trilho traçado pelos outros, algum rumo se leva...
Susana: quem reza, acredita que esteja... e quem não, às vezes também...
:)
António: mais que o caminho, ou o rumo, aqui fala-se da força necessária para caminhar... :)
Mas claro, cada um lê com os seus olhos muito próprios. ;)
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