08 agosto 2008

Três vidas

O superintendente Jorge Barreira, número um do Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Lisboa, deu a ordem aos 'snipers' do Grupo de Operações Especiais para 'neutralizar' os dois assaltantes que se barricaram na dependência do Banco Espírito Santos (BES), ontem à noite.


A ordem para matar foi avalizada pelo próprio director nacional da PSP, Oliveira Pereira, presente no teatro de operações. E surgiu quando os dois brasileiros apareceram à entrada da agência de Campolide do BES, apontando armas de fogo ao pescoço e à nuca dos dois reféns, funcionários do banco. "Estava em risco a vida de terceiros", justifica uma fonte autorizada da PSP.


Foram disparados três tiros. O primeiro matou um dos suspeitos, outro falhou e o terceiro atingiu o segundo assaltante, que está internado em estado grave no Hospital de São José.




Hoje de madrugada, um homem chegou a casa e, depois de saber que os filhos tinham feito uma birra para dormir por causa da PlayStation, e à corriqueira pergunta «vieste tão tarde!, estás muito cansado?», respondeu:
- Hoje, ao fim do dia, mandei matar um homem...

Um pouco afastado dali, alguém deu uma resposta parecida. E, talvez um pouco mais longe, houve alguém que cerrou um pouco os maxilares e respondeu:
- Como sempre... - enquanto silenciava «Só que hoje matei um homem».


Esperemos que as vítimas estejam já todas contadas.

10 comentários:

Ti disse...

Do que esse 3º sente ninguém fala... e ele próprio terá sp de o esconder.

Gi disse...

Todos estamos presos por um fio, se é o da vida, se é o da morte, há quem nunca venha a saber.

gir@f disse...

Como tudo na vida há que fazer escolhas
erradas ou certas, têm de ser feitas
na minha modesta opinião, desempenharam bem o seu papel

Caetana disse...

é uma perspectiva interessante sobre a situação. No entanto, questiono-me se esses homens ficarão com um peso na consciência. Afinal de contas, são treinados para isso, são profissionais.

eva disse...

O que eu acho é que são sempre contas difíceis de fazer...

nando disse...

Ti: esperemos, para o bem dele, que não tenha de facto sempre de esconder... E que tenha o devido apoio... :\

Gi: Acho que fiquei nessa última categoria! Qual é afinal!? :P

MAF: nem eu disse outra coisa. A vida é feita de opções. Mas não é por tomarmos a opção mais correcta, ou até, a única possível, que vamos conseguir sempre dormir descansados. Ou ficar em paz... :)

Caetana: por muito treino que as pessoas tenham, há certas coisas para as quais simplesmente ninguém nos pode preparar.
No caso, é a segunda pessoa abatida por esta força especial da polícia. Não sei se poderemos dizer que seja assim grande prática... :|

Eva: nem mais!... ;)

Anónimo disse...

Aqui vai um milho diferente: contou-me "um polícia": às vezes a tristeza está em não poder agir. O crime está ali, à nossa frente, sabemo-lo e conhecemo-lo de cor, mas, cortam-nos mãos e pés com o flagrante delito. Falava de pedofilia e desejava poder matar...

nando disse...

Desabafos... Eu sou mais adepto do sistema. Menos a favor da vindicta privada (mal traduzida por vingança), ou da justiça popular. Não que às vezes não fosse mais justa. Mas que muitas vezes não o seria. E pagaria o justo pelo pagador!... :)

Anónimo disse...

Hum... estamos em campos de discussão diferentes. Eu também temo a vindicta privada, mas tenho consciência de que só não a teremos se o sistema funcionar e o sistema tem que ter processos de defesa do cidadão comum. Não podemos, por um lado, dizer que o sistema tem que nos defender e, por outro, acusá-lo de excesso de violência quando nos defende.
Vou tentar explicar a minha posição nestas situações.
Ponto 1. Vitima é aquela que, apanhada de surpreza, tem a arma apontada à cabeça. pergunto-me quanto tempo e quantas sessões de terapia vão necessitar os dois reféns para entrar num banco sem olhar para a própria sombra e para deixar de sonhar de noite?
Ponto 2. A polícia (leia-se qq corpo, força ou agente da lei) é treinada para proteger a vítima nestas situações. Estou certa que são homens que não gostam de matar, mas que matam sem que a consciência lhes doa se tiverem que o fazer e bem-hajam por isso.
Ponto 3. Não me causa qq dor a morte daquele que comete um crime.
Ponto 4.Sou absolutamente contra o uso de violência excessiva, do tipo dar um encherto de porrada a um miúdo que roubou uma carteira. Mas sou a favor da pena de morte para situações como a pedofilia, o tráfico de "carne branca" e o assassínio em série (patologia incurável, cuja solução única é o extermínio). Sou a favor de penas muito mais pesadas do que as que temos na nossa lei. É curioso como, muitas vezes, a pena é mais pesada para o autor de crime em legítima defesa do que para os próprios criminosos...

Claro que isto é a minha posição geral sobre o assunto, porque, depois, cada caso é um caso, e vou-me posicionando de acordo com a informação que vou recebendo pelos media, a qual, muitas vezes, até é mais falsa do que verdadeira.

nando disse...

Tem toda a razão. A dificuldade está precisamente em encontrar o justo equilíbrio. Como sabe, qualquer regime totalitário é, geralmente, muito menos propenso a criminalidade "privada". Aí tem um sistema que defende o cidadão... mas com certos "custos".
Quanto a penas, não são a favor da pena de prisão, sequer. Entendo-a tão somente como um mal necessário. Daí que a pena de morte seja então totalmente inadmissível...
Assim, em geral, a morte de alguém, é sempre a morte de alguém. Seja de alguém que praticou um crime (e não quererá discutir o que é isso de crime?), seja de alguém que, por exemplo, não tem um papel social ou pessoal...
Assim, mais para o fim das suas palavras, não há crime, ou punição para quem age em legítima defesa... Imagino que haja aí alguma ideia diferente. Pode haver responsabilidade, direito a indemnização, reparação de danos... mas nada de punições.
E sobre os media e questões de justiça, há desinformação em 95% dos casos...
:)

Mas repare que, o meu texto apenas se refere ao ponto 2 do seu (texto). E ao facto de achar que matar alguém nunca será só e apenas "mais um dia de trabalho". A menos que os polícias não sejam humanos. Mal de nós, então...
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